Qualidades de um texto

Qualidades de um texto

Um texto é um conjunto de informações concebido em um determinado contexto e uma determinada situação de comunicação. Ele é capaz de transmitir uma mensagem de sentido completo, inteligível, e sempre nasce de uma intencionalidade. Mas, será que tudo o que se escreve é um texto? Como avaliar um texto? Como reconhecer e quais são as qualidades de um texto?

Pois bem… Antes de mais nada, alerto de imediato que nem tudo o que se escreve é um texto. Para que o material escrito receba essa definição, é preciso que esse material possua o que nós chamamos de textualidade.

Fatores de textualidade

Essa textualidade é reconhecida, segundo Irandé Antunes (2017) a partir de alguns fatores reconhecidos no próprio texto: a intencionalidade, a gramaticalidade, a semanticidade e a comunicabilidade.

Quando um texto é produzido, ele nasce de uma intencionalidade, isto é, de um objetivo definido pelo ser autor que pode ser o entretenimento, ou o deleite e a contemplação, ou a informação e o ensino de um conteúdo, ou ainda a mera instrução do leitor. Essa intencionalidade é o que determina, entre outras coisas, que tipo e gênero de texto serão produzidos.

Essa produção deve contar ainda com a gramaticalidade. Veja só… quando alguém produz um texto, usa um código para isso. No nosso caso, usamos um código linguístico: a Língua Portuguesa. Esse código possui regras para que seu funcionamento ocorra.

Quando lemos e analisamos o texto lido, reconhecemos que o nível de obediência a essas regras determina o grau de inteligibilidade das ideias. Imagine só: escrever um texto para falantes de uma língua e não obedecer às regras que estruturam o funcionamento dessa língua, como a ortografia, a acentuação, a concordância e a regência ou a pontuação?

Quanto à semanticidade, esta implica que o texto é um todo significativo. Como é um todo, está composto por partes. A menor unidade de sentido em um texto é a palavra. Juntando palavras organizadamente, teremos frases. Juntando frases organizadamente, teremos parágrafos, que são as maiores unidades de sentido dentro do texto.

Logo, cada palavra, cada expressão, cada frase, enfim, é um elemento responsável pela produção de sentido do texto.

Por fim, a comunicabilidade. O material escrito deve permitir o intercâmbio de ideias entre os interlocutores. Quem escreve (emissor) e quem lê (receptor) terão garantido entre si uma comunicação a partir de como os elementos componentes do texto são manipulados. Ao produzir eventos de comunicação, o texto cumpre o seu papel de troca entre sujeitos participantes desse processo.

Ok! Feita essa introdução, vou agora dizer a você que um texto, pertença ele a qualquer tipologia ou gênero, deve possuir um conjunto de características que lhe conferem maior ou menor qualidade. Essas características são quatro: a clareza, a concisão, a correção e a harmonia. Vamos conhecer as qualidades de um texto?

Primeira qualidade de um texto: a clareza

De acordo com o Dicionário Eletrônico Caldas Aulete, clareza é a “Qualidade do que é claro, fácil de entender”. Assim, eu posso afirmar que a clareza de um texto consiste na expressão de ideias de tal maneira que estas ideias possam ser compreendidas rapidamente pelo leitor. Ser claro no que se deseja dizer permite que sua mensagem seja compreendida com mais exatidão e, no caso de concursos, permite que a banca compreenda melhor a sua abordagem sobre o tema.

Segundo Medeiros (2003), a clareza consiste na expressão exata de um pensamento. Para o autor, um estilo é claro quando apresenta coerência e evidência tal que não é possível deixar de entender o texto.

Consequentemente, para ser claro, escreva frases preferencialmente em ordem direta, evite mensagens subliminares, não exagere na linguagem figurada, evite preciosismos gramaticais, opte por um vocabulário simples (não simplório), adeque a sua linguagem ao tema, ao contexto e ao receptor. Considere, ainda, evirar:

  • Ambiguidade, que é um defeito da frase que apresenta duplo sentido.
  • Anacoluto, que se caracteriza pela ruptura da frase, deixando os termos soltos, sem articulação.
  • Barbarismos, que se constituem ou no uso de expressões estrangeiras e palavras grafadas erroneamente para designar uma ideia, quando há termos na língua natural; ou no uso de frases incompletas e mal estruturadas sintaticamente.
  • Circunlóquio, que é o rodeio de palavras, ou seja, o uso de muitas palavras para dizer pouca coisa.
  • Frases longas, que se caracterizam pela percepção de que não terminam nunca, seja por causa do queísmo, seja pelo gerundismo.
  • Exagero nas inversões, que ocorre quando frequentemente encontramos sujeitos e/ou complementos verbais deslocados.
  • Mau emprego da pontuação, sobretudo da vírgula e do ponto.
  • Obscuridade, que é exatamente a falta de clareza, resultante do sentido duvidoso, por causa do acúmulo de elementos numa frase.
  • Purismos, que se revelam na exagerada preocupação formal.

Luft (1990) nos lembra que “a clareza é qualidade essencial da boa expressão”.

Segunda qualidade de um texto: a concisão

Ter concisão significa não abusar das palavras para expressar uma ideia. O emprego da linguagem adequada, da palavra exata e necessária, a busca da economia verbal são qualidades do estilo conciso. Do texto jornalístico, da linguagem comercial, técnica, administrativa, científica, didática ou oficial espera-se sempre o máximo de concisão.

No entanto, vale lembrar que na linguagem literária a concisão nem sempre é uma qualidade e, dependendo do contexto formal, a concisão pode ser elevada ao exagero e se transformar em um defeito chamado laconismo.

Para escrever bem, é preciso, portanto, escrever apenas as palavras necessárias. É fundamenta encerrar um pensamento com o menor número de palavras possível, mas sem prejudicar a qualidade da mensagem e sem demonstrar pobreza vocabular. Assim, a redação exige a reflexão sobre cada palavra colocada no papel.

Como proceder para ser conciso? Eliminando expressões supérfluas. Essa não é uma tarefa fácil, por isso a brevidade é sempre a última das qualidades de um texto que se aprende no mecanismo da arte de escrever.

Um texto conciso é, por assim dizer, um texto objetivo.

Terceira qualidade de um texto: a correção

Para Luft (1990), a correção linguística ou gramatical lembra que a estrutura gramatical do texto vai além das questões de sintaxe. Segundo a estudiosa, “o conceito de correção está vinculado ao padrão da língua culta e em geral se identifica a preceitos e normas gramaticais”.

Porém, ela nos alerta que, na atualidade, esse conceito se flexibilizou mais e está muito mais associado à adequação da linguagem ao contexto de uso.

Dessa forma, a linguagem deve estar adequada ao assunto, ao ouvinte/leitor, à situação etc. Por exemplo, se a situação de comunicação é formal, como uma prova de concurso, um vestibular, o leitor é uma banca que vai analisar o texto sob a ótica de uma grade de correção e o texto a ser produzido é dissertativo, a linguagem empregada nesse contexto é, obrigatoriamente, formal.

Assim, para atingir níveis maiores de adequação à formalidade da linguagem em seu texto, você deve estar atento aos critérios de correção. São eles

  • O emprego do plural (atendendo-se neste caso ao plural e às questões de concordância verbal e nominal, observando-se principalmente os nomes compostos).
  • Emprego do gênero.
  • Formas verbais.
  • Formas pronominais.
  • Questões de sintaxe, como pontuação, regência e crase.

Medeiros (2003) nos lembra que a redação literária tem maior liberdade quanto à correção gramatical que a redação não-literária. A literária, segundo o autor, admite a criação de palavras novas (neologismos), a utilização de gírias, admite até usos não gramaticais.

Na redação não-literária, ao contrário, exige-se conhecimento da língua portuguesa e de sua gramática. Para ele, é necessário estudar, pois, a sintaxe, a concordância e a regência verbal e nominal, a colocação pronominal e a colocação de termos na oração.

Portanto, em uma frase: correção é obediência à gramática e adequação ao uso.

Quarta qualidade de um texto: a harmonia

Segundo Medeiros (2003), “a boa disposição das palavras numa frase tem como resultado a harmonia”. Após redigir o rascunho de uma redação numa prova de concurso, acostume-se a ler esse rascunho para perceber a dureza que certas palavras e construções sintáticas promovem dentro do texto.

Perceba a pontuação, veja se a mensagem flui com leveza e progressão, se as ideias estão se complementando e se conectando à ideia global. Isso melhorará as chances de desenvolver as qualidades do texto.

A harmonia consiste no ajustamento de palavras e frases quanto à eufonia, isto é, à sonoridade agradável. A eufonia é o resultado do encadeamento de sons que provém da escola inteligente de palavras e da distribuição dos termos na oração, das orações no período e dos períodos no parágrafo.

Sendo assim, o texto não deve apresentar dificuldades de leitura, mas possibilitar a cadência, o equilíbrio e a ordem. O uso da frase em ordem direta traz bons efeitos ao texto. Portanto, são inimigos da harmonia:

A cacofonia – som desagradável, resultante de uma sequência de vocábulos na mesma frase, provocando riso, levando o escritor e o texto ao ridículo, como ocorre nestas manchetes retiradas de jornais: “Justiça confisca cago no interior do Piauí” ou “Pandemia: o que fica dela?”.

O eco – ocorrência de vocábulos com a mesma terminação. Por exemplo: “A libração da procissão causou comoção na população de Ribeirão”.

O hiato – encontro desagradável de vogais. Exemplo: “A pandemia chegou ao auge”.

Luft (1990) nos lembra, ainda, que um grande auxiliar para preservar o texto da falta de harmonia e garantir as qualidades de um texto é a sensibilidade, o ouvido, que nos fazem evitar tais problemas de sonoridade, pelo som e/ou pelo sentido.

Considerações finais

Redigir, compor uma redação, um texto, é uma ação que exige por parte do redator uma técnica apurada, que implica em domínio de certas competências linguísticas. É uma arte que envolve processos intelectuais, cognitivos.

Esta ação está atrelada a dois momentos distintos, porém complementares: o de formular pensamentos (aquilo que se quer dizer) a partir de um estímulo, como a leitura de textos de apoio e de propostas temáticas e o de expressá-los por escrito (redigir o texto propriamente dito).

Portanto, as qualidades de um texto estão necessariamente presas a ter o que dizer (seleção de conteúdo, de informação, de repertório) e a saber como dizer (técnica de redação). Assim sendo, o conselho que eu dou a você, caro leitor, é estude e leia. Estude com bons materiais, bons livros e faça bons cursos. Leia melhor e mais. Tenha contato frequente com o bom texto em busca de informação, deleite e do reconhecimento de excelentes estruturas textuais e estilos brilhantes de escrever.

Um forte abraço e até o próximo artigo.

Professor Adeildo Jr.

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