Quem é você no jogo da aprendizagem: aluno ou estudante?
Em tempos de isolamento social, aprender nunca foi tão requisitado de nós. Mas, em meio a todos os problemas que esta situação externou, emergiu uma pergunta: Você é Aluno ou Estudante?
Professor, eu tenho estudado para concursos há 3 anos e tenho um problema que me atrapalha demais. Não tenho facilidade para organizar o que eu estudo. Sinto uma enorme dificuldade para sistematizar as informações de um jeito que me ajude a revisar o conteúdo. O que eu posso fazer para combater esse problema?
Primeiramente, meus caros, abro este artigo com a pergunta de o L.M.V, seguidor do meu perfil no Instagram, me enviou recentemente e que me obrigou a realizar uma live sobre Como Usar Mapas Conceituais para Estudar Português para Concursos. (Assista à live abaixo)
Portanto, a pergunta dele nos leva a uma reflexão mais ampla ainda: sabemos estudar? E aí, eu lembro as palavras do célebre Professor Pierluigi Piazzi:
(…) o Brasil tem milhões de alunos, e pouquíssimos estudantes.
Não que o jovem L.M.V. não seja estudante, ele o é. Entretanto, a pergunta dele traz para a reflexão a discussão sobre o que é ser um estudante e o que é ser um aluno.
Ser Aluno
A priori, aluno, do latim alūmnus, que significa “criança de peito”, por extensão “pupilo, discípulo”, segundo o Dicionário Escolar Latino Português, do saudoso Professor Ernesto Faria. Portanto, ao contrário da lenda urbana que declara aluno como sendo alguém sem luz (sem luz é quem acredita em lendas urbanas), o aluno tem sido ao longo da história da educação aquele que apenas recebe a informação, aquele que é nutrido de conhecimento, é “amamentado” por outrem. O aluno, por excelência, mantém-se numa postura apática, passiva e, no máximo, interage com professores e colegas de sala numa atitude meramente operacional.
Ser Estudante
A posteriori, Todavia, ser estudante é outra coisa. Apesar de usada muitas vezes como sinônimo de aluno, a palavra estudante já demonstra uma definição baseada na ação, pois o sufixo formador dessa palavra (-ante) já aponta para isso. Veja o que encontramos no Dicionário Eletrônico Aulete Digital:
-ante: suf. adj. que se junta ao tema de verbos em ar, e exprime o sujeito da ação ou do estado indicados na significação do verbo: brilhante, semelhante, calmante, fulgurante. Corresponde ao part. pres. dos verbos latinos. || suf. s. (analog.) Indica a profissão, a seita: fabricante, comediante, protestante. Ou o cargo, o emprego comandante, almirante, ajudante.
Desse modo, estudante é aquele que estuda, isto é, que executa uma ação predominantemente individual, a qual envolve ações e procedimentos cognitivos em razão do processo de construção do saber. Ser estudante é, pois, ser agente do processo, tomar a frente da descoberta do conhecimento.
Uma Verdade do Professor “Pier”
Como nossas salas de aula estão repletas de alunos, mas com pouquíssimos estudantes, as palavras do Professor “Pier” se revestem de razão. Inclusive, alguns de nós professores nunca deixamos de ser alunos.
Agora, você, que me lê neste momento, poderia me perguntar: “e o que essa discussão toda tem a ver com o que disse o L.M.V.?” E eu responderei em uma palavra: TUDO!!!!!
Fale-me, caro leitor, você classificaria o L.M.V como aluno ou como estudante, com base na pergunta que ele me fez? É claro que a pergunta dele é a pergunta de um estudante, pois é exatamente quando estudamos que as dificuldades de entendimento se manifestam, que a certeza da compreensão ou da incompreensão emerge.
Eu entendo a preocupação dele. Ela é legítima. Nós (eu me incluo porque faço parte de uma geração inteira que foi educada assim) não fomos preparados, e os alunos de hoje também não o são em sua maioria, para sermos estudantes.
Como Eu Virei Estudante?
Diga-me aí quem foi na escola ou em casa ensinado a estudar? Quem recebeu orientação adequada sobre como aprender, como desenvolver pesquisar ou como coletar dados, como interpretá-los ou como tirar o máximo proveito de uma leitura?
Na verdade, pouquíssimos tiveram acesso a esse tipo de formação. Muitas vezes não temos isso nem na Universidade, pois muitas vezes a disciplina de Metodologia Científica é muito, mas muito mal dada.
Então, para L.M.V. e para todos vocês que me leem agora, eu digo: leiam sobre como se lê, como estudar, como se aprende. Existem literaturas incríveis sobre isso. Quando eu comecei a estudar para concursos, travei uma batalha com uma avalanche de conteúdo, e rapidamente eu vi que a forma de estudar que eu conhecia não me ajudaria muito naquele novo momento, já que até então eu só estudava a minha área.
Direito, Administração, Matemática Financeira, Contabilidade, Economia, Aduana eram novidade total para mim. Por isso, recorri aos concurseiros mais experientes e perguntei a eles o que faziam para dar conta de tanto conteúdo. Foi aí que eu conheci a obra “Como Passar em Provas e Concursos”, de Willian Douglas.
Obras que Ajudam
Essa obra me colocou em rota de colisão, meu caro leitor, com novas metodologias de estudo. Entendi como o meu cérebro funcionava e como eu aprendia. A partir daí, passei a transformar tudo o que eu estudava em um material visual, colorido (usando esquemas de cor). Passei a usar mapas conceituais e mapas mentais para reter as informações com mais qualidade, além de aprender a usar outras metodologias e reforçar as que eu conhecia.
Além dessa obra, procurei ler sobre técnicas de aprendizagem. E li obras incríveis, como “Leituras e Anotações”, de Bigitte Chevalier; “Mapas Conceituais e Aprendizagem Significativa”, de Marco Antonio Moreira; Técnicas de Aprender Conteúdos e Habilidades”, de Marco Aurélio de P. Ribeiro; “Aprender a Aprender”, de Cleverson Bastos e Vicente Keller; “Você Sabe Estudar?”, de Claudio Moura Castro; “Já Entendi”, de Gladys Mariotto.
Todas obras excelentes. Aprendi muita coisa boa com elas, pus em prática e ensino tudo aos meus alunos nos preparatórios, e nas escolas onde trabalho.
Respondendo a L.M.V.
Sendo assim, para responder novamente ao L.M.V., eu recomendo: aprenda a sublinhar as ideias de um texto, faça mapas conceituais e resumos esquematizados, realize diferentes tipos de exercícios (de fixação, de avaliação de aprendizagem), responda diferentes tipos de questão (de múltipla escolha, discursivas), enfim, descubra como você aprende e adeque tudo o que você estuda ao seu jeito de aprender: vendo, ouvindo, fazendo, ensinando ou tudo isso junto.
Um forte abraço e até o próximo artigo!
Professor Adeildo Júnior